uma
coisa que aconteceu nas duas viagens de volta do japão foi que, depois
de horas em um ambiente controlado e quase sem estímulos, como é um
avião, o choque com a realidade do aeroporto é muito forte. eu já vinha
de 14 horas de vôo de tóquio para houston, mais as horas de espera do
vôo no aeroporto e as 12 horas de houston pro rio e estava muito, muito
cansada. então encarar barulhos, gente pegando
carrinho de bagagem e batendo nos outros carrinhos, gente no telefone
avisando que chegou, depois sair e encarar a muvuca dos táxis, o sol, o
rádio ligado, isso tudo foi me sobrecarregando dum nível que nem sei
explicar. foi uma superexposição dos sentidos, não sei. a palavra que
melhor descreve é em inglês, overwhelming. deitar e dormir foi o único
remédio.
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eu preciso dizer uma coisa, mesmo.
passei poucas horas nos estados unidos. e essas poucas horas foram decisivas na minha decisão de não voltar lá.
não pelas pessoas. há pessoas muito queridas que moram lá. gente que mora no meu coração.
mas pela imigração.
tudo bem, eu entendo o onze de setembro.
eu entendo que as coisas mudaram.
mas eu estive em outros lugares, sabe.
eu estive no japão. no canadá.
no chile. na argentina. lugares onde passei pela mesma rotina de
segurança - mas onde houve uma enorme diferença da segurança americana.
no japão, no canadá, no chile, na argentina, eu não fui tratada como ameaça. eu ouvi "por favor" e "obrigado".
eu não saí cansada de um vôo longo e ouvi grito.
eu não me senti como se tivesse um feitor me dando ordem.
mandaram tirar os sapatos sem nem ter um lugar onde eu pudesse me
apoiar. o fred machucou as costas na viagem de ida pq não teve como se
sentar para tirar os sapatos e isso só não aconteceu de novo porque eu
desatei os cadarços e o ajudei a descalçar as botas.
em outros lugares, mesmo seguindo o mesmo protocolo de segurança, eu me senti bem-vinda.
e eu não volto onde não sou bem tratada.
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Na
ida, abriram minha mala. Na volta, levei grito e ainda fui revistada.
é, levei um chega mais da segurança. não fui com pedra na
mão não. Levei pedrada deles. Não volto. Eu até posso desculpar uma
coisa ou outra, mas meu dinheiro não aceita desaforo.
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eu
não tou dizendo que não é para seguir as normas de segurança
internacionais. não tou dizendo que é prá todo mundo menos eu tirar o
sapato. o que eu tou dizendo é que não precisa tratar o povo feito gado,
pq eu vi que é possível passar pela mesma experiência com um banco para
poder sentar e tirar o sapato, e ouvir por favor e obrigado. mas vai
ver q o problema sou eu, que gosto de ser tratada com educação.
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